Enquanto aqui no rio Guaporé em Cabixi, fazemos mutirão e tiramos cinco
mil kg de lixo do rio, em Manaus um belo projeto resolve fácil o problema. A
diferença é que aqui quem joga ou deixa o lixo no rio não são ribeirinhos e
índios como lá. Aqui quem depreda são pessoas influentes, de posição, que
possuem casas de veraneio às margens do rio e "escondem" seu lixo
jogado sobre a cerca, na mata ciliar. Se aqui quem frequentasse o rio fossem o
mesmo público de lá, certamente seria mais fácil resolver o problema.
Vejam agora o projeto de Manaus. (Matéria extraída do site O eco.
Ela vive na comunidade Três Unidos, de índios Cambeba, que fica dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) Rio Negro, no Amazonas, a cerca de uma hora de lancha da cidade de Manaus. A vila ribeirinha, como tantas outras no interior da Amazônia, precisa resolver sozinha o problema do lixo, mesmo aquele que poderia ser reaproveitado ou reciclado.
“Hoje, qualquer localidade, por mais distante que seja, vai ter resíduos que são próprios de ambientes urbanos, como PETs, latinhas, pilhas, produtos que ao se decomporem liberam substâncias estranhas ao ambiente”, afirma Antônio Ademir Stroski, diretor-presidente do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam). “As empresas de reciclagem de Manaus não vão buscar os resíduos em comunidades remotas porque é economicamente inviável”, explica.
O incentivo para a comunidade separar não só os saquinhos de salgados, mas também diversas outras embalagens de produtos industrializados, como xampus, sabonetes e bolachas, vem do projeto Recicle Suas Ideias, da empresa TerraCycle e que teve a adesão da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), que gerencia o programa Bolsa Floresta do governo estadual. Na indústria, as embalagens são transformadas em produtos, como estojos ou discos frisbee (aqueles usados para brincar na praia).
O programa de logística reversa oferece remuneração a instituições que encaminham para a empresa embalagens de determinados produtos. A FAS vai receber dois centavos (R$ 0,02) por embalagem devolvida. “É para ganhar dinheiro”, afirma Geovana Barbosa da Silva, de 5 anos, a Pulipuli ou Vaga-lume, quando perguntada sobre a razão de guardar os saquinhos.
Na verdade, as crianças não vão receber o dinheiro diretamente. Como explica a supervisora pedagógica da FAS, Venina Savedra, a intenção é reverter o que for arrecadado em atividades e ações nas comunidades que participam do programa. “Ainda estamos estudando como usá-lo”, afirma.
A iniciativa chegou ao interior do Amazonas em agosto do ano passado, nos seis Núcleos de Conservação e Sustentabilidade mantidos pela FAS. As embalagens são separadas tanto pelas crianças da comunidade quanto pelos alunos do Núcleo e colocadas em caixas. Depois, são enviadas para a sede da FAS em Manaus, onde são conferidas e remetidas para a empresa TerraCycle, que as reutiliza em diversos tipos de produtos.
Lixão
A lixeira é um buraco coberto com vários tipos de resíduos, desde restos de eletrodomésticos até embalagens que não foram separadas pelos moradores. A fumaça da incineração é permanente, assim como o mau cheiro e os animais que são atraídos para o local. “A comunidade faz o buraco, quando não tem mais lugar para o lixo faz outro”, conta o menino Elinelson Silva de Morais, 11 anos, irmão de Nelcilane e conhecido como Uauá, ou Neném.
Desde que o programa foi implantado, o volume de lixo produzido na casa da matriarca da Vila, Diamantina Cruz, a Baba, caiu pela metade. Para ela, um alívio. “Não tem mais onde jogar. Nós já cavamos dois buracos, mas já estão cheios. Vamos ter de cavar mais um”, afirma a mulher que fundou a vila com o marido, há mais de 20 anos.
O programa ajuda também a reduzir a pegada ambiental do Núcleo de Conservação e Sustentabilidade Assy Manana, implantado pela FAS na comunidade. O Núcleo oferece aulas regulares para 120 estudantes do 6º ano ao ensino médio - ministradas por professores da Secretaria Estadual de Educação - e capacitação na área de Desenvolvimento Sustentável. Mas cuidar do lixo sempre foi um desafio.
O gestor local do Núcleo, o biólogo Klebson Demelas, calcula que 60% do lixo produzido ali seja orgânico, aproveitado então para alimentar animais e para a compostagem. Os outros 40% são separados pelos alunos. Apenas o lixo considerado contaminado (papel higiênico, garrafas plástica de óleo, embalagem de alimentos com restos de sangue ou que ofereçam risco etc) é incinerado em um tambor.
“A gente está minimizando nosso impacto com o lixo”, afirma Demelas, que já encontrou animais mortos, asfixiados por embalagens, em outra área onde trabalhava. “Um plástico que é jogado no rio pode ser reconhecido por um quelônio como uma presa e causar a morte do animal”, afirma.
Aprendizado
“Quando eu como um bombom ou salgadinho e não tem uma lixeira perto, eu ponho no bolso e levo pra casa para botar no lixo”, conta Eures. Claro que isto resulta em um inconveniente, vez ou outra ele se vê com o bolso cheio de saquinhos, papéis e outras embalagens. Mas é melhor do que jogar no chão.
Os dois também adoram os salgadinhos de milho. E sabem que a guloseima é muito popular na vila. “A gente enche um caixa de saquinhos por dia”, conta Daniel, lembrando que antes muitas destas embalagens ficavam espalhadas no chão ou na mata, esperando alguém se dispor a recolhê-las ou a faxina. Isso, quando não iam parar na floresta ou no rio.
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